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São Paulo/Montevideo/São Paulo - Parte 4

(Clique nas fotos para ve-las em tamanho maior)

Chuí até Cassino via praia

Saindo de Chuí fui para o Balneário Hermenegildo. Daí então começa a verdadeira viagem, pois este balneário é a última civilização até Cassino/RS. Este trecho tem 198 km, porém com os zigue-zagues que se faz durante o trajeto a quilometragem fica bem mais alta. Tanque cheio antes de sair é fundamental.
Areia dura e seca gasta pouco combustível, mas se tiver algum imprevisto e ter que andar em areia molhada ou fofa, o consumo aumenta radicalmente. Principalmente se rebocar por 80 km à noite em areia meio fofa um Omega com carreta carregada e mais 4 marmanjos !!! De 9,5 km/l passou a fazer menos de 6 km/l.

Balneário Hermenegildo é pequeno, mas bastante freqüentado no verão, inclusive por muitos uruguaios. Existem muitos jipeiros na região e eles conhecem muito bem este litoral, portanto vale a pena conversar com eles antes de começar a viagem. Vento vindo do norte significa tempo bom e maré calma, vento vindo do sul... boa sorte!!!
Para fazer este passeio com tranqüilidade, parar para bater fotos e curtir a natureza, não sair após o meio dia ou pegará os últimos 50 km no escuro, como eu fiz!
Chegando em Balneário Hermenegildo zerei o odômetro. Segui sentido norte pela rua estreita paralela a praia. O fim desta rua faz 90º para direita e acaba na areia da praia. Logo no primeiro quarteirão desta rua, do lado esquerdo, há um mercadinho. Seu proprietário, um rapaz muito simpático e prestativo, possui um Willys todo colorido e equipado que fica numa garagem do outro lado da rua. Ele foi um ótimo informante dos muitos detalhes da praia.
No verão, o movimento de carros na praia é grande nos primeiros 10 km, depois a praia vai ficando deserta até que só se encontra gaivotas, leões marinhos, tartarugas mortas, urubus comendo estes animais e algum gado... Você já viu vaca pastar na praia? Lá existe!
A maioria dos leões marinhos mortos que se vê, não é de morte natural. O leão marinho abre buraco nas redes dos pescadores quando são capturados. Portanto antes de abrirem os buracos, os pescadores atiram neles! O que o IBAMA faz contra isso? Claro que nada! E olha que a Estação Ecológica Banhado do Taim está há poucos quilômetros dali.
Devido experiências anteriores, fiquei esperto por estar com um Toyota branco todo original, pois de longe lembra muito os carros do IBAMA e quem está infringindo as leis contra o meio ambiente poderia me atacar antes de perceber que eu era apenas um turista. Já tive duas experiências que felizmente acabaram bem. Uma delas, nesta viagem, foi até engraçada, mas a outra, em Cananéia/SP, poderia ter acabado mal!
Durante o trajeto encontrei alguns pescadores que vivem em casas escondidas atrás das dunas ou das árvores. Alguns possuem tratores ou gaiolas. Costumam ser prestativos e simpáticos.
Bem, nestes 198 km de praia existem 4 faróis administrados pela Marinha, porém somente um deles é controlado.
Aos 32 km rodados eu estava perto do 1º farol, porém não é possível vê-lo porque ele caiu. Como sou teimoso e queira vê-lo mesmo caído, a dica do jipeiro era: quando chegar próximo a esta quilometragem, prestar atenção em um pequeno barraco de madeira junto às dunas. Mais ou menos 800m após este, parar o carro e subir a pé na duna mais alta que encontrar e será possível vê-lo. Em uma linha perpendicular ao mar há um suposto acesso até ele.RS10.jpg (43788 bytes)
Ele disse também que atrás dele há uma trilha que chega na Lagoa do Pacheco e que é muito bonita. Bem, eu não vi nada e também não quis me arriscar muito por estar sozinho, pneus meia vida de uso misto, sem guincho ou rádio PX. O rádio queimou logo no primeiro dia de viagem!
Voltando para praia, por volta dos 43 km há uma duna mais alta que as outras e com vegetação. Ao seu lado direito há uma passagem entre outra duna que chegará no hotel abandonado. Na década de 50, especuladores imobiliários tentaram fazer dali um balneário urbanizado. Da frustrada tentativa sobraram apenas escombros do hotel, hoje quase coberto pelas dunas. As ruínas servem de atração turística e apoio de pernoite para alguns aventureiros. Bem, não tem o que ver nestas ruínas, mas já que eu estava ali... Há uma casa de pescador do lado esquerdo da duna mais alta.
Novamente na praia, por volta dos 50 km existe um tipo de formação natural bonita e curiosa. Dunas muito semelhantes as do nordeste brasileiro, distantes 300 metros da praia, têm fácil acesso por dentro de rios secos, porém estes rios são muito largos. Às vezes a praia inteira parece um imenso rio seco desaguando no mar. Isso ocorre porque durante as grandes chuvas toda esta região fica alagada e por ser uma planície a água corre por igual para o mar sem formar um rio propriamente dito.RS11.jpg (29525 bytes) É possível chegar nas grandes dunas entrando por este imenso rio. Conforme minha experiência, não é regra, mas em 90% dos casos, as areias escuras são duras e as claras são fofas, portanto trafegar pelas escuras. Às vezes o pneu afunda de 2 a 5 dedos na areia escura, mas dá para ir tranqüilo. Claro que nestes lugares deve-se entrar sempre traçado. Com pneus largos vale até arriscar um passeio pelas areias claras, como eu fiz.RS11A.jpg (23224 bytes)
Continuando pela praia, no km 80 cheguei no Albardão, o 2º farol. Porém 10 km antes já pode-se vê-lo. Existe uma grande área demarcada em volta dele com placas da Marinha do Brasil, dizendo "PROIBIDA A ENTRADA". Apesar da placa dizer para não entrar, entrei conforme dica do jipeiro. No lado esquerdo desta área cercada tem um pequeno rio. Acompanhei-o por dentro e pela lateral, conforme a areia deixava, até achar uma porteira na cerca. RS12.jpg (23043 bytes) Em dias secos é fácil de passar, mas em dias chuvosos... Conheci o João Bica. Ele é da Marinha e vive lá com a família. Ele chegou 3 dias antes de mim e ficará por 3 anos morando lá, ou seja até 13/01/2005. Muito simpático, permitiu que eu visitasse o farol de 44 metros de altura e 250 degraus. Pode-se avistar um bom trecho de praia e da Lagoa do Pacheco. Não é oficial, mas ele permite acampar na área.RS13.jpg (13524 bytes)
Novamente na praia, no km 120 está o 3º farol chamado Verga. Este não é alto e usa baterias carregadas por painel solar. Então resolvi chegar com o carro até lá. Foi aí que quase me dei mal... Lembra da minha experiência, onde 90% da areia escura é dura? Pois bem, eu peguei justamente os outros 10% de areia escura mole! O Toyota afundou até a metade das rodas.Claro que no momento já pensei o pior. Quantos quilômetros terei que andar para pedir socorro?
Numa pequena área de 10 metros de diâmetro a areia parecia movediça e agarrou as rodas de tal forma que em marcha ré normal 4x4 o motor quase não teve força para sair. Nem titubeei, liguei a reduzida para facilitar e consegui sair melhor. RS14.jpg (22720 bytes)Claro que o resto do percurso até o farol eu fiz a pé!
Após o susto volto para a praia. RS15.jpg (12570 bytes) O sol já estava baixando e mais alguns quilômetros vejo o tal Omega parado com duas barracas de camping ao lado sendo montadas. O dono do carro me pediu ajuda, pois celular ali serve somente de enfeite. Três pick-ups pararam, mas recusaram ajuda e eu era o último carro a passar por ali naquele final de domingo.
Eu os reboquei até Cassino (+ ou - 80 km) que é a cidade mais próxima. A noite foi caindo e o 4º farol, que se chama Sarita, eu só o vi porque ele piscava.
Quinze km antes do centro de Cassino está o navio Altair que em 1976 foi pego por uma forte tempestade que o fez naufragar. RS16.jpg (14177 bytes)Obviamente que à noite e rebocando um carro não pude vê-lo muito bem, então retornei no dia seguinte para aprecia-lo.

Todo mês de agosto existe a "Travessia do Taim", com 400 km de percurso organizada pelos jipeiros da região. Com saída de Santa Vitória do Palmar/RS, sobem pela costa, passando por grande trecho de banhado, visitam o hotel abandonado, vão pela praia até o farol Albardão, atravessam o Banhado do Taim e retornam por asfalto. Em uma das edições houve 300 carros, algumas motos e 3 tratores de apoio. O trajeto que eles fazem é um pouco radical com muita água, lama e dunas. Sem um 4x4 e alguém que conheça bem o caminho é impossível completar o percurso. 
Como eu pretendia seguir viagem pela Estrada do Inferno, abasteci o carro em Cassino, pois o próximo posto só em Mostardas/RS.

Dormi em Cassino e no dia seguinte, continuando pela praia após passar o centro e indo até o fim da praia cheguei aos Molhes da Barra. Os molhes são muralhas de pedras com 4,5 km de extensão, penetrando oceano adentro. Considerada uma das maiores obras de engenharia do século XIX empregando na sua construção 3.389.800 toneladas de pedras, é um dos locais preferidos pelos pescadores, podendo ser percorrido de ponta-a-ponta em "vagonetas", uma mistura de jangada com trole ferroviário.RS17.jpg (35800 bytes)
Esta barra é a ligação da Lagoa dos Patos com o mar. Os navios que param em Rio Grande/RS ou os que vão para Porto Alegre/RS, pela Lagoa dos Patos, passam por esta barra. Para que não houvesse assoreamento do rio pelo mar, foi construído um imenso paredão de pedras (molhe) nas laterais do rio.
Saindo da praia neste ponto, logo achei o asfalto. Seguindo em frente fui até achar uma pequena e discreta placa indicando a balsa à direita (dica do jipeiro). A entrada da estrada de terra parece uma mineradora, mas logo vi a balsa (R$ 8,00 em jan/2002).
Em Rio Grande/RS existe outra balsa que atravessa para São José do Norte/RS, porém conforme dica do jipeiro, esta seria a melhor opção.

DICAS EXTRAS PARA QUEM DESEJA FAZER ESTE TRAJETO

Para quem não tem experiência de dirigir pelas areias de praia aqui vão algumas dicas importantes.
Apesar de ser gostoso dirigir na praia, esta diversão pode ser bastante traiçoeira.
Toda vez que for atravessar um rio que corta a praia, seja grande ou pequeno, certifique-se da profundidade e principalmente dos degraus que se formam nas bordas. A borda do outro lado é fácil de ser vista, porém na borda do seu lado não se vê com facilidade se existe degrau ou não. Em uma viagem, meu irmão não teve tempo de brecar e decolou de um degrau de um metro, felizmente ele estava com uma XLX e nada aconteceu além do susto.
As condições da areia estão diretamente proporcionais as luas. Eu não sei exatamente o resultado de cada lua, mas tem lua que a maré sobe muito e desce muito e assim ela deixa a praia limpa e lisa, claro que esta é a melhor para se trafegar na praia. Mas existe uma lua que além de deixar troncos de árvore pelo caminho, também deixa ondulações na areia e que não se pode passar dos 40 km/h, pois o veículo decola. E estas ondulações enganam, por vezes as mais baixas parecem altas e as mais altas parecem baixas. Assim como acontece com a profundidade dos rios.
Bem, foi numa dessas que eu estava por volta de 60 km/h e decolei bem, voei legal por uns 10 metros, mas aterrisei forçado. Isso pode ser normal em uma competição, mas não num passeio onde pode acabar com a viagem. Não preciso nem dizer como ficaram os objetos dentro do carro. A suspensão chegou no final de curso e o carro saiu novamente do chão. O susto foi enorme ainda mais porque eu não esperava nada parecido. Felizmente não tive problema mecânico e pude continuar a viagem.

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