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Uruguay
Antes de chegar ao Chuí pela BR471, passa-se pela Receita Federal. Eu não parei, pois não precisei declarar nada. Na seqüência fui direto para Barra do Chuí, no ponto mais Meridional do Brasil. Conheci o último farol do país antes do Uruguay
e fui tratar da burocracia para atravessar a fronteira. Antes, parei no centro de Chuí, onde troquei Real por Peso na cotação de R$ 1,00 = $ 5,60 (jan/2002). Enchi o tanque do Toyota (R$ 0,87/litro), pois lá o diesel é mais caro (R$ 1,11/litro) e fui para a imigração Uruguaia.
Basta apresentar o RG original ou o passaporte. Eu preferi usar o passaporte para registrar oficialmente a entrada e saída no país. O carro deve estar com os documentos no nome do viajante.
Por estar sozinho e ter muitas preocupações, "comi bola" e não vi um centro de informações turísticas em frente a imigração, onde poderia já ter pego mapas das estradas, Montevideo, Punta Del Este e informações das praias.
Assim que atravessei a fronteira já vi uma placa dizendo para acender os faróis nas estradas mesmo de dia.
Peguei a Ruta 9 e comecei a descer para Montevideo, a 340 km da fronteira. Estrada simples, bom asfalto e sinalização. Logo tive que parar para a vistoria na Receita Federal Uruguaia, mais alguns quilômetros parei novamente para vistoria de não lembro o que, mas foi tudo muito tranqüilo, pois meu carro estava vazio. Nem precisei abrir as portas.
Mais adiante surge uma placa dizendo para ter atenção, pois a estrada pode ser usada para aterrisagens de emergência de aviões. Então o asfalto se transforma em uma pista de aeroporto, sem faixas laterais, larga, somente uma faixa no meio e com direito a espaço para taxiar no fim da pista. Só faltava um funcionário da Infraero uruguaia com plaquetas nas mãos para sinalizar as manobras!
Poucos quilômetros a frente chego na Fortaleza de Santa Teresa, que pude avistar sua pontinha da estrada. Então resolvi fazer uma visita rápida pagando por volta de R$ 5,00 o ingresso. Tudo muito bem conservado e limpo. Bati algumas fotos e segui viagem. Passei por cima de algo e quando olho pelo retrovisor vejo uma cobra se contorcendo. Juro que foi sem querer!
Minha intenção era ir direto para Montevideo, mas cheguei na entrada para Punta del
Diablo, uma ponta de pedra com uma pequena cidade. Não resisti e entrei para conhecer por ser perto da estrada.Com ruas irregulares de terra que foram se formando ao redor das casas, a cidade ficou rústica é muito badalada por surfistas e
jovens. Este local lembra um pouco a região do Farol de Santa Marta em Santa Catarina. Após uma caminhada pela cidade e algumas fotos, retornei para a Ruta 9 e andei 90 km até chegar em Rocha, já no final da tarde.
Passando em frente a um posto de gasolina vi dois caminhões brasileiros parados. Resolvi pedir algumas informações sobre as estradas, polícia e segurança.Papo vai, papo vem e a noite chegou. Sugerido por eles, parei o jipe junto aos caminhões e dormi ali mesmo. Melhor ainda, fui acordado por um deles às 7h00 me oferecendo café fresquinho!
Segui pela Ruta 9 até 10 km após Pan de Azucar, onde peguei a Ruta I (Interbalneária) e fui até Montevideo. O único inconveniente desta Ruta I é que tem muito semáforo e trânsito, mas a estrada é de pista dupla e boa.
Montevideo - Eu cheguei pela bonita avenida da Playa Miramar e na seqüência na Playa Carrasco com o bairro nobre de mesmo nome.
Continuando sempre pela Rambla, avenida da praia, passei por várias outras praias, parando um pouco na Playa de los Pocitos.
Na seqüência das praias fui sair no porto que está muito perto do centro. A capital do Uruguay é muito antiga e o centro da cidade tem ruas apertadas com construções muito antigas. O movimento de carros é intenso, inclusive os carros muito antigos que ainda se arrastam pelas ruas.
A Plaza Independência é bonita com seus monumentos e em destaque está o Hotel Palacio Salvo de 1930, um edifício que chama a atenção com sua torre principal.
Após rodar por quase toda a cidade, fui conhecer o Cerro Montevideo. Um morro um pouco afastado do centro, pois fica do outro lado da baía de Montevideo. No topo é possível ter uma visão geral da capital Uruguaia e visitar a Fortaleza General Artigas.
Com metade da missão cumprida, comecei então a voltar para o norte, mas sempre contornando o litoral. Saindo da cidade pela Rambla Tomas Berreta e passando pelas Playas de San José de Carrasco, Lagomar, Solymar, El Pinar e sendo obrigado a voltar para a Ruta I aonde um peaje (pedágio)
estratégicamente colocado logo após um rio com uma única ponte nos obriga a pagar $ 55,00 Pesos Uruguayos, o equivalente a R$ 9,82, prossegui viagem.
Para ser sincero, acho que eu deveria ter vindo direto pela Ruta I até o pedágio, porque estes lugares que passei, do centro até aqui, não acrescentaram nada na viagem e tomaram meu tempo. Bem, isso só se descobre depois que acontece e faz parte das viagens. Ainda estava no lucro, pois foi a 1º vez que isso aconteceu.
Continuando pela Ruta I, depois de 63 km, ainda na província de Canelones, passei por mais um pedágio de mesmo valor. Para entrar em Montevideo não se paga pedágios, mas para sair...
Agora na província de Maldonado, andei mais 3 km entrei à direita no início da Ruta 10, onde fui presenteado com um belo arco-íris.
Podemos comparar a Ruta 10 como a BR101 no Brasil, ou seja, está o mais perto possível do mar passando pelos locais mais badalados do litoral. Estrada estreita de grande movimento, principalmente no verão, com trechos de terra, bem conservada nas praias de menor movimento.
Após rodar 14 km, em asfalto, cheguei em Piriápolis (parece nome de cidade brasileira). Depois de visitar o Hotel Argentino (1930), subi no Cerro San Antonio que tem visão de toda cidade.
Um pouco mais adiante a Ruta 10 dá lugar à Ruta 93, uma grande avenida com bonitas vistas da costa. Então chego a Punta Ballena, um morro que avança sobre o mar onde está a Ruta Panorâmica com extensão de 2.500 metros. A entrada é discreta e quase passei direto, mas a visão do mar, do por do sol e da suave baía de Maldonado é fantástica. Aqui também se localiza o famoso Casapueblo com sua construção em estilo marroquino, pintado todo de branco. Criado pelo pintor e escultor uruguayo Carlos Paez Vilaró, era seu atelier que se transformou num museu, acrescentou um fino restaurante e depois um hotel. Hoje as instalações vão desde a rua no topo do morro até bem próximo do mar, onde estão as piscinas.
Continuando pela Ruta 10, que agora é uma avenida de frente à Playa
Pinares, acompanhei a baía Maldonado. Logo após a Parada 24 aproveitei para pegar uns mapas da região no Centro de Información Turística. Esta praia é contínua e muda de nome várias vezes até que cheguei em frente ao famoso cassino Conrad, o maior da América do Sul. Este cassino está próximo do centro de Punta del Este.
Pela Rambla de circunvalación é possível rodear toda a península, passando pelo porto/marina, pelo Faro de Punta del Este (1860) e pela Plaza e Playa de los Ingleses. Esta praça, que está de frente para o mar, é a divisa entre o Rio de la Plata e o Oceano Atlântico. Visitei tudo isso de carro e depois o estacionei no centro para um passeio a pé pelas ruas principais do centro. Caminhando pelas ruas, percebi que a maioria dos carros possuem muitos adesivos de rádios, lojas e outros no vidro traseiro. Logo entendi o que acontecia. Garotos propaganda vão de carro em carro estacionados colando adesivos. Claro que também fui alvo. O problema era achar lugar para colar, pois além de eu já ter vários adesivos, meu carro estava muito sujo.
Nesta rua tive a oportunidade de ver um Suzuki Samurai de mil novecentos e lá vai bolinha, restaurado na cor "amarelo-cheguei". Tirando os pneus carecas o carro estava bonito.
Na Playa Brava pude conhecer uma obra de arte interessante. Cinco enormes dedos de concreto saindo da areia. Existe uma obra semelhante dessa a 70 km de Antofagasta, no norte do Chile. Parece até as mãos de Deus segurando a América do Sul.
Seguindo por esta praia, passei por alguns bairros de luxo como San Rafael, Rincón e Beverly Hills com luxuosas mansões sem muros e seus bonitos jardins.
Para sair de Punta del Este pelo norte é necessário passar pela Puente Leonel Viera (1965), sobre o Arroyo Maldonado. Ela seria comum se não fosse seu formato ondulado. Parece que o sol estava muito forte e a derreteu!
La Barra é a cidade após a ponte, e certos trechos lembram muito a BR101 nas praias de Maresias e Boiçucanga no litoral de São Paulo com restaurantes, butiques, galerias e condomínios na beira de la carretera. Daqui para frente a estrada perde o movimento intenso de carros devido as praias menos badaladas.
Lembra da placa que vi na entrada do país dizendo para ascender os faróis nas estradas mesmo de dia? Se você não os ascender terá que bater um longo papo com o guarda. Eu ainda tive sorte dele falar muito bem português porque seu pai é brasileiro, mas isso não me ajudou muito e perdi 30 minutos de conversa.
Mais 18 km e cheguei ao pequeno vilarejo de José Ignácio. Considerado um Oásis de paz e tranqüilidade, com exceção da praia ao lado do farol (1877), tudo aqui é muito pacato. Na entrada do vilarejo acaba o asfalto da Ruta 10.
Meio desavisado, com sorte e azar ao mesmo tempo, parei no posto de gasolina em frente ao vilarejo antes de seguir no trecho cheio de incertezas.
Eu soube que era o último posto porque eu parei. Bem, então tive sorte, pois meu tanque já estava pedindo combustível. Meu cartão de crédito havia dado problemas antes e tive que pagar os abastecimentos anteriores em dinheiro, o que me fez ficar com poucos Pesos. Conversei com o frentista se podia primeiro registrar um valor no cartão e depois encher o tanque e ele concordou. Azar, após descontar o valor no cartão a única bomba de diesel resolveu quebrar. Eles não queriam devolver o dinheiro porque foi pago pelo cartão e pediram para eu esperar um pouco que a bomba voltaria a funcionar a qualquer momento. O posto mais próximo daquele estava a 50 km para trás. Após chutes e pontapés do frentista na bomba eu resolvi abri-la e usar toda minha experiência de pós graduação e doutorado em bombas de diesel em postos uruguaios que é igual a zero.
Cheguei a conclusão que o defeito não era mecânico e sim na parte eletrônica da máquina. Melhor de tudo é que esta parte é lacrada. Bem, após ver o nível de óleo do motor, lavar os faróis e vidros, ir ao banheiro, pegar informações da estrada e passar 30 minutos no sol quente a bomba, do nada, resolveu funcionar.
Agora com o tanque cheio a preocupação era outra. Em Punta tive a informação que eu teria que pegar uma balsa gratuita mais 15 km à frente. O policial disse que eu teria que pagar 60 Pesos e o frentista disse que não sabia quanto pagava e se a balsa estava funcionando. Minhas opções eram, já deste ponto, ir em direção a Ruta 9 e sair de perto da praia ou arriscar e seguir em frente.
Claro que segui em frente pela estrada de terra cada vez mais desabitada. No caminho achei algumas pessoas que não souberam responder sobre a estrada e muito menos da balsa. Já era fim de tarde, mas resolvi continuar. Decisão correta! A estrada é boa e logo cheguei na balsa que cabem somente dois carros e é puxada por um barco pequeno com motor de popa.
Aqui existe a Laguna Garzón e a balsa atravessa a barra desta lagoa para o mar. Esta balsa é do tipo que encalha na margem do rio e desce uma rampa para passar o carro. Pediram para eu parar bem na frente para facilitar a saída da balsa. No meio do caminho pediram para eu dar ré para facilitar o encalhe da balsa na outra margem. Quando o "marinheiro" viu que eu era do Brasil começou a falar várias gírias em português. Eu não entendi o porque daquilo até que ele disse que 2 dias atrás passou um brasileiro por lá que só falava em gíria.
Quanto à balsa, é gratuita e parte assim que tiver um carro.
Saindo da balsa existe uma reta de terra quase infinita e deserta paralela a praia à direita e a Laguna Garzón à esquerda. Contornando a lagoa conheci um bosque muito bonito e com direito a passar num trecho do leito da lagoa.
A Ruta 10 distancia da praia e neste trecho fui obrigado a ir para a Ruta 9. Aqui é um dos poucos pontos onde a Ruta 10 possui uma interrupção devido a Laguna de Rocha. Esta lagoa é muito grande e conforme informações não é possível atravessa-la.
Pela Ruta 9, andei por volta de 20 km até a cidade de Rocha, onde peguei 22 km na Ruta 15 até o litoral. Neste ponto recomeça a Ruta 10, mas agora com asfalto gasto e um pouco ondulado.
Mais ou menos 30 km está a entrada para Cabo Polonio, uma reserva ecológica que não é permitida a entrada de carros particulares. Bem, não é bem assim, mas para entrar com seu carro é necessário pegar autorização no órgão responsável e pagar uma taxa na cidade que está a mais de 50 km dali.
Cabo Polonio é um vilarejo de pescadores e pouquíssimas pousadas com + ou - 50 casas. Existe um farol de mesmo nome, não há energia elétrica e o acesso difícil, devido às dunas, faz com que o local mantenha uma vida calma e primitiva.
Com tanta dificuldade para se chegar lá, existem algumas empresas de turismo que cobram $ 35,00 Pesos uruguaios para te levar e trazer em um veículo 4x4 pelos 5 km de areia. Os carros usados são caminhões 4x4 e 6x6 da 2º guerra comprados em leilão nos EUA e reformados lá mesmo, conforme disse um dos motoristas. Infelizmente não fotografei nenhum deles. Existem vários horários de saída e retorno e pode-se voltar no outro dia se quiser.
Um detalhe interessante em Polonio é que ali está uma das maiores colônias de leões marinhos fora da Antártica. Os machos que ganham a batalha pela fêmea ficam com ela em uma pequena ilha de pedras a 100 metros do continente dando altos gritos de campeões. Nas pedras do continente ficam os perdedores, e olha que não são poucos! A área deles foi cercada com telas para que os turistas não os incomodem, mas é possível chegar bem perto para fotografar. Mas cuidado para não se assustar com os enormes arrotos-surpresas que eles dão!
Cabo Polonio foi um dos assuntos da revista Caminhos da Terra na edição de Janeiro de 2002.
Novamente na Ruta 10, 4 km após passar a estreita ponte sobre o Arroyo
Valizas, está a entrada para o vilarejo de Valizas, onde dormi esta noite. Local muito simples, mas agitado pelos jovens turistas. Quando cheguei estava começando uma espécie de bloco carnavalesco com tambores e outros instrumentos de percussão. Nem pensei muito, estacionei o carro e entrei na muvuca. Trezentos metros de caminhada com batuques e pararam em uma praça com várias bancas de artesanato e uma enorme fogueira no meio, apesar da noite quente. A fome estava brigando com a úlcera e entrei numa lanchonete. Achei interessante o cardápio na parede que continha bauru e caipirinha.
Entre José Ignácio e Chuy existem muitos jovens viajantes mochileiros e hippies uruguaios e argentinos. Muito comum vê-los pedindo carona nas estradas.
O Uruguai não possui montanhas próximas ao litoral e o que me chamou a atenção em Valizas foram as dunas altas próximas a praia. Fui com o carro até onde deu e estacionei. Atravessei o Arroyo Valizas a pé com água no umbigo e caminhei até as dunas. Fui obrigado a ver um maravilhoso por do sol. Andando por 5 km sobre estas dunas é possível chegar em Cabo Polônio. Realmente não é para qualquer um!
Bem, esta foi a última parada no Uruguai e daqui segui direto para o Brasil, passando novamente pela pista de pouso forçado. No Chuy tentei trocar o resto de Pesos que ainda possuía, mas por ser domingo tive um pouco de dificuldade.
BRASIL - Enchi o tanque e almocei no Chuí/RS. Segui para Balneário Hermenegildo/RS para tentar subir pela praia até Cassino/RS. |